Epidemias e alterações climáticas

Epidemias e alterações clmáticas: a pedra no sapato mundial

Os analistas do Fórum Económico Mundial divulgaram o Relatório de Riscos Globais 2021 onde concluem que, nos próximos dez anos, a maior probabilidade de riscos a nível mundial estão relacionados com as condições meteorológicas extremas, com insuficiência da ação climática e os danos ambientais causados pelo homem..

O mundo está a ser assolado por uma crise sanitária com a propagação do vírus da Covid-19 com repercussões na economia global. Um cenário que vem confirmar algumas das previsões que os analistas do Fórum Económico Mundial têm feito ao longo dos anos quanto às principais ameaças a serem enfrentadas neste novo ano e nesta próxima década. Estas ameaças estão espelhadas na 16 edição do Relatório de Riscos Globais.

De acordo com o relatório, doenças infeciosas, clima extremo e crises de subsistência são os riscos iminentes que o mundo irá enfrentar nos próximos dois anos.

Os promotores do estudo sublinham que, no ano passado, fomos testemunhas das consequências de ignorar a preparação e os riscos a longo prazo. A pandemia da Covid-19 não só retirou a vida a milhões de pessoas, como ampliou também as disparidades já existentes ao nível da saúde, da economia e do digital. E não têm dúvidas que milhões de cuidadores, trabalhadores e estudantes – em especial minorias que já se encontravam em desvantagem mesmo antes da pandemia – estão agora em risco de perder o rumo para sociedades novas e mais justas que a recuperação poderia ter desbloqueado”. De acordo com o Global Risks Report 2021, estes desenvolvimentos podem impedir ainda mais a cooperação global necessária na resposta aos desafios de longo prazo, como a degradação ambiental. O estudo avalia ainda qual a maior probabilidade de riscos dos próximos dez anos e conclui que estão relacionados com as condições meteorológicas extremas, a insuficiência da ação climática e com os danos ambientais causados pelo homem. Neste conjunto de riscos incluem-se ainda a concentração de energia digital, desigualdade digital e a falha na segurança cibernética.

O relatório do WEF Global Risks de 2021  disponibiliza as conclusões do Global Risks Perception Survey (GRPS) que conta com 841 respostas de empresários, políticos, ativistas sociais e especialistas em várias áreas recolhidas entre 8 de setembro e 23 de outubro. O GRPS conta como parceiros estratégicos com a Marsh McLennan, o SK Group e a Zurich Insurance Group.

Numa análise aos riscos de maior impacto da próxima década, as doenças infeciosas surgem em primeiro lugar, seguidas por falhas na ação climática e outros riscos ambientais. Nestes riscos estão também as armas de destruição em massa, crises de meios de subsistência, crises de dívidas e quebra de infraestrutura de TI.

No horizonte de três a cinco anos, os analistas do WEF admitem que o mundo será ameaçado por riscos económicos e tecnológicos indiretos. Nestes riscos, que podem levar vários anos para se materializar, estão incluídos o estouro de bolhas de ativos, falhas com infraestruturas tecnológicas, instabilidade de preços e crises de dívida.

Ignorar riscos não faz com que desapareçam

Afalta de preparação da maior parte dos países para a pandemia, cenário para o qual tinha vindo a alertar desde 2006, é uma das críticas que se pode ler no mesmo relatório, sendo que é feita também uma análise sobre os aspetos positivos e negativos das respostas dos diferentes países. Citada no relatório, a diretora-geral do World Economic Forum, Saadia Zahidi, realça que “em 2020, o risco de uma pandemia global tornou-se uma realidade, algo que este relatório tem vindo a destacar desde 2006”. De acordo com Saadia Zahidi “sabemos o quão difícil é para governos, empresas e outros acionistas abordar estes riscos a longo-prazo, mas a lição para todos nós passa por reconhecer que ignorar estes riscos não faz com que a probabilidade de acontecerem seja menor”. E sublinha que à medida que governos, empresas e sociedades começam a emergir da pandemia “têm de agora, e de forma célere, moldar a nova economia e os sistemas sociais para que melhorem a nossa resiliência coletiva e a capacidade de responder a choques, enquanto reduzem a desigualdade, melhorando a saúde e protegendo o planeta”.

Digitalização pode acelerar desigualdades

O Group Chief Risk Officer do Zurich Insurance Group, Peter Giger, alerta para os perigos de se agravar as desigualdades. O gestor lembra que “a aceleração da transformação digital promete trazer grandes benefícios, como por exemplo, a criação de cerca de 100 milhões de novos postos de trabalho em 2025”. Mas ao mesmo tempo, Peter Giger refere que “a digitalização pode deslocar cerca de 85 milhões de postos de trabalho e, uma vez que 60% dos adultos ainda carece de competências digitais, o risco está no agravamento das desigualdades existentes”.

O gestor da Zurich não tem dúvidas que “o maior risco a longo-prazo continua a ser a incapacidade de agir sobre as alterações climáticas”. Isto porque, não havendo uma vacina contra os riscos climáticos, “os planos para a recuperação pós-pandémica devem focar-se no alinhamento entre crescimento e as agendas de sustentabilidade para reconstruir um mundo melhor.”

A Risk Management Leader, Continental Europe da Marsh, Carolina Klint, salienta que as consequências económicas e sociais da Covid-19 “irão impactar profundamente a forma como as organizações interagem com os seus clientes e colaboradores, mesmo muito depois da implementação de qualquer vacina”. A gestora acredita que à medida que as empresas transformam os seus locais de trabalho, vão surgir novas vulnerabilidades. Isto porque “a rápida digitalização está a fazer crescer exponencialmente as exposições cibernéticas, a disrupção das cadeias de fornecimento está a alterar radicalmente os modelos de negócio e o aumento de questões de saúde mais críticas acompanha os colaboradores na mudança para o trabalho remoto” afirma Carolina Klint. “Se estiverem dispostas a melhorar a sua resiliência a choques futuros, todas as organizações vão precisar de se fortalecer e rever constantemente as suas estratégias de mitigação de risco”, alerta a mesma responsável.

Por seu turno o presidente do Social Value Committee do SK Group, Lee Hyung-hee, sublinha que a pandemia, em 2020, foi um teste à resistência de todos, que abalou as bases económicas e sociais a nível mundial. De acordo com Lee Hyung-hee, “reconstruir resiliência para choques sistémicos irá requerer financiamentos significativos, cooperação internacional e uma maior coesão social”. O gestor defende ainda que “a resiliência irá também depender do crescimento contínuo da conetividade mundial, uma vez que sabemos que as economias que digitalizaram mais cedo tiveram uma melhor performance em 2020”. E deixa um alerta: “Se a implementação do 5G e da Inteligência Artificial continuar a emergir como um motor de crescimento, precisamos urgentemente de colmatar o fosso digital e tratar dos riscos éticos”.

Fonte: Dírcia Lopes , In Forbes Portugal | 31 Março 2021

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